Blog Leandro Lima

Análises independentes sobre política

Por Leandro Lima

Cartão Na Manga

Nada mais usual que levantar os gastos do famoso cartão corporativo de um ex-Presidente para desgastar sua imagem. O motivo é simples: os gastos, considerados muitas vezes desnecessários pela opinião pública, são expostos sem contexto, gerando um mal-estar instantâneo para o gestor do cartão. Não é uma estratégia isolada, Lula é suficientemente esperto para entender que aumentar a rejeição de Bolsonaro é a melhor maneira de afastar de vez a sombra de seu principal oponente. 
Acontece que o cartão corporativo, que para mim é uma herança da monarquia, permite, no caso do Presidente da República, que gastos sejam realizados para atender "peculiaridades". O termo deixa os gastos muito abrangentes, o que dificulta sua fiscalização. A maioria dos agentes públicos ao se deslocar das cidades sedes, localidades em que atuam profissionalmente, recebem diária, é o procedimento correto. A legislação brasileira também prevê formas mais ágeis que a própria licitação para gastos considerados menores, já que seria impraticável abrir um processo licitatório para cada um deles. É importante dizer que apesar dos processos ser simplificados, precisam seguir regras. 
A ideia é bem-intencionada, tal cartão surge da necessidade de dar agilidade aos gastos considerados de "pequeno vulto". Mas nas mãos erradas essa prerrogativa pode se tornar uma verdadeira ausência de bom senso. O Brasil possui, no meu entendimento, uma legislação moderna, que inclusive foi revisada recentemente, para a aquisição de bens ou serviços, o que transforma o cartão em algo que fica deslocado da realidade. Cada vez mais os cidadãos vêm demandando governantes menos monarcas e mais servidores. Pelo caráter de "peculiaridade", dado ao cartão corporativo, a exposição dos gastos de Bolsonaro mais parece uma carta na manga para impor martírio ao ex-Presidente, mas é preciso cuidado, muitos mártires se tornam santos.