Blog Leandro Lima

Análises independentes sobre política

Por Leandro Lima

Dois Eixos

A atual administração do Governo Federal fez uma escolha clara: priorizar a narrativa política ao invés de focar nas ações que realmente são importantes para o país. Desde sua posse o Presidente Lula tratou de afirmar que recebeu uma herança maldita. Para quem acompanha as trajetórias de líderes petistas que assumem cargos no executivo, nenhuma novidade, é uma prática comum entre eles quando sucedem seus adversários. Está cada vez difícil culpar o seu antecessor por todos os desarranjos ocorridos no Governo Lula. 
Dois temas chamam atenção quando o assunto é narrativa política: as manifestações radicais ocorridas em 8 de janeiro e a crise humanitária em que vive a comunidade indígena yanomami. Não restam dúvidas que 8 janeiro de 2023 está marcada com uma data negativa na história nacional. Revoltados, de forma tardia com o resultado das urnas, manifestantes radicais invadiram as sedes dos três poderes e depredaram o patrimônio público. As respostas para a situação, que já não era boa, foram as piores possíveis. Inúmeros manifestantes foram detidos, sem o zelo de diferenciar quem estava ou não transgredindo as leis. Foram punidos de rigorosa apenas os integrantes do Governo de Brasília - DF e o mais impressionante, um Governador foi afastado de suas funções sem a participação de sua respectiva Casa Legislativa ou ao menos do Superior Tribunal de Justiça. Mas o pior ainda estava por vir, quando apareceu de forma surpreendente as imagens do Ministro-Chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), General Gonçalves Dias, colaborando com os manifestantes radicais dentro do Palácio do Planalto, no fatídico dia. Os membros do Governo Federal trataram logo de abafar a crise e impedir que fosse instaurada uma CPMI (Comissão Parlamentar Mista de Inquérito) para apurar os fatos.  
Já a situação delicada em que vive a comunidade indígena Yanomami serviu para que o Presidente Lula saísse bem na fotografia e aparecesse como o salvador da pátria. Acontece que o caso é muito mais complexo do que se imagina. Ao digitar na barra de pesquisa do site científico Scielo é possível acessar vários estudos sobre problemas humanitários, sanitários e de saúde impostos ao seu povo. O artigo mais antigo que consegui acessar data de 1992, é possível concluir que faz muito tempo que os yanomamis enfrentam situações severas. Os membros dessa comunidade totalizam cerca de 26mil pessoas que vivem espalhados por uma área de aproximadamente 9,6 milhões de hectares localizados no Brasil e na Venezuela. Por viver de maneira tradicional não é simples ter acesso aos membros da comunidade yanomami, que por sua vez acabam sofrendo na pele com a ação dos garimpeiros ilegais. 
Foram escolhidos dois temas para ilustrar um pouco do que tem sido o Governo Federal até aqui, um verdadeiro deserto de ideias. A busca desenfreada pelo controle da narrativa política se perde quando os fatos são apurados e não existem ações sólidas para ser celebradas. Os atos de 8 de janeiro que serviram para alimentar a hipótese antifascista caiu por terra e mais parece uma arapuca armada para varrer os descontentes das ruas. O povo yanomami que sofre há décadas com a interação de não indígenas serviu como estandarte para a demagogia de um problema que não se resolverá facilmente.