Blog Leandro Lima

Análises independentes sobre política

Por Leandro Lima

O Recado

No ano passado o Chile passou por uma constituinte, conjunto de representantes que se reúnem com a missão redigir ou reformar a Constituição do país, mas a população rejeitou a nova proposta quando foi consultada por meio de um plebiscito. Os constituintes falharam em produzir uma Constituição capaz de atender as revindicações dos chilenos que ocorreram em 2019. Acontece que essa proposta foi liderada por Boric, atual Presidente do Chile, que cometeu um grave erro ao acreditar que ganhar uma eleição é receber um cheque em branco dos cidadãos. O país está se preparando para uma nova constituinte, mas dessa vez o processo será liderado por José Antonio Kast, candidato derrotado por Boric nas eleições e seu opositor. 
Apontar que existe uma polarização política entre esquerda e direita, representados, por dois grupos, respetivamente liderados por Boric e Kast é básico. Mas o que chama atenção é que a população mudou o rumo de sua tomada de decisão de forma muito radical, rejeitando a proposta de Constituição identificada com Boric e entregando a possibilidade de escrever as leis que irão vigorar no país para Kast e seu grupo. No meio do caminho ainda tem o grupo que se identifica como a direita tradicional, que não é ligado a Boric e nem a Kast.
A crise em que o Chile passa é um forte indicativo para explicar a mudança repentina de opinião da população. A impaciência popular impera no país e os cidadãos ficam mais dispostos a apostar em soluções totalmente contrárias às testadas anteriormente e isso, em parte, explica o apoio popular ao grupo de Kast, deixando a direita tradicional em segundo plano. Em tempos difíceis os cidadãos procuram representantes radicais, rejeitando os moderados. 
É importante entender o que se passa nos países da América do Sul para entender como isso impacta no Brasil. O Chile manda um recado claro que o Brasil pode ser atingido por uma onda de instabilidade política em que a opinião pública muda de forma repentina. Definitivamente ganhar uma eleição não significa um aceite para agir como se tivesse recebido um cheque em branco da população. E por fim a polarização extremada pode estar longe de acabar, já que todo esse cenário nebuloso desfavorece os líderes moderados.